CONVERSA

CONVERSA

RRR

Bate, à porta, o silencio

Calado. Entra quieto

Peço, apelo mudo

Para que fique neste chão

Que sinta meu pensar

Meu suspirar bêbado de solidão

Sabes que és bem-vindo

Sem sentido, bem vivido

Sinta o burburinho tonto

Que corre no meu peito

Não menos sem jeito

Desafeto, quanto o teu pesar

Aprendo a entender-te

Como nunca entendi a mim mesma

Posto nunca haver ouvido meu sentimento

Filho que é teu, Silencio

Que nasceu morto e mudo

Vejo meu coração insano

Tonto, em alucinações

Sonhando ser feliz

Tolo! Ah, coração solitário

vagamundo

Embala teu sonho no cismar do silencio

olha e não vê

busca e não acha

Acorda para sonhar

chora para sorrir

Diga, na calada noite

que os passos a vagar pela casa

soam sonâmbulos, angustiados

Que não verei o raiar do dia

Que tudo será como está

Saberei que o sol brilha

Queimando a terra

Aquecendo o mundo

Apenas saberei

Permanecendo no escuro

Diga, no meu pensamento turvo

Preso às minhas lamentações

Que não sou mutável, mortal

O corpo apodrecerá

Continuando a alma, viva e limpa

Silencio, que grita nos cantos de mim!

Abre a janela e deixa a claridade

Exorciza os medos

Descubra meu amor e me faça amar

E a me amar também

Amando, esqueço os pesadelos

Mas vivo a amarga realidade de sobreviver

De beber este veneno todos os dias

Olhar o irmão e não vê-lo

Ver o sol e não me iluminar

Ver gente, sangue, suor

Sem me comover

Ver morrerem todos os dias

As esperanças

Que são utopias

Ver, na vigília constante

Que nada posso neste instante

Não agora.

Vai embora, Silencio

Doce grito de desespero eterno