[Riscos n’água]

Por que insistimos tanto em riscar n'água?

Eu risco n'água a loucura de um desejo inalcançável,

pois sei que água, ao apagar os meus riscos,

guardará os meus segredos... ocultará

o ridículo do fracasso da tentativa!

Eu risco n'água até os meus olhos doerem

de tanto inquirir profundezas inatingíveis,

até o absurdo estalar de um tapa na minha face...

Risco sim... só para ver a superfície líquida

desmanchar tudo numa lisura absurda,

como se nunca tivera acontecido?

Risco sim... só para tentar [inutilmente]

não deixar memória do ridículo,

só para apagar os traços da minha ida

até à margem do rio da fuga das coisas?

Ah, tomara o ridículo fosse mesmo

como os riscos na lisura da água...

O ridículo é um fogo "interno",

não precisa de oxigênio,

ama ocultar-se no escuro da mente,

e assim, como o fogo que se guarda

no oco dos troncos caídos da queimada,

reacende-se vivo, rubro — não se extingue nunca!

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[Desterro, 04 de fevereiro de 2013]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 04/02/2013
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