Irrevolucionável

Mais um dia qualquer

Que nada de novo se aspira

O dia passa como brisa de mar

Sentimos que dele nada vai mudar

Nesse arrogante e ignorante país,

Onde todo mundo é pobremente feliz

Revolução é utopia do inocente aprendiz

Aqui, se tem preguiça de se revoltar

É como se brasileiro já nascesse sabendo

Que os valores e crenças são desculpas

Da inutilidade do tal mundo comum

Que atenuam todas suas desavenças

Descobrimento, como chamaram o genocidio

Independência gritada pelo senhor imperador

Abolição feita por uma monarca, até que enfim!

O que aqui emergiu de baixo e resistiu com louvor?

Nada conquistado por lutas,

Nada realmente revolucionado,

Só um discurso conformado

E uma esperança hipócrita de enojar

E consideram um grande feito democrático

Ir as ruas sorrindo de cara pintada

Felizes por poder falar mal dos que escolhem

Seus legítimos representantes corruptos

País que ainda busca identidade

Que sabe que ela depende da ocasionalidade

Se é que alguém busca de verdade

Ou se está só esperando o tempo passar

Os mesmos senhores, hoje e sempre

O mesmo discurso, o mesmo marasmo

Indignar-se não pode durar uma tarde

A noite tem futebol, e amanhã é feriado.