ASAS DE GELO

Sobre vejo-me sempre

marcando as saídas

dos labirintos, ocasionados

pelas contradições inusitadas,

pelas cartas já marcadas,

pelas flores murchas

que terra boa e água pura

não revitaliza, não renasce

que de vez se faz, condenadas...

saio em busca de um salto

como um voo de Ícaro

mas com asas de gelo

procuro me distanciar, indeciso

com asas fortes alongadas

livre aproximar-me mais perto do sol,

sem que descambe derretido

sem que morra desapercebido

moribundo, escachelado ao solo...

percebo-me alheio aos ensejos

dos festejos, dos passeios

dos dias originais, das noites cálidas

dos risos largos, dos abraços sentidos

das conversas longas falando da vida,

percebo-me arredio, um separado

solitário extraviado que jaz condenado

que não caminha, perambula solitário

sobre os serenos noturnos,

em orvalhos pisados, desfeitos

o tempo não corre, inerte e latente

pulsa, em coração apertado

choroso, lastima, se derrete

de sua amarga rotina

dos dias iguais, inaturais

e, aos caíres das tardes

todas as lembranças

se concretizam, se preconizam, refazendo

os labirintos, buscando saídas

sem encontrá-las, não vejo flores

não vejo água pura, não vejo nada

só busco novos saltos,

para também novos voos

nunca muito distantes

jamais próximo do sol...

Romulo Marinho

Romulo Marinho
Enviado por Romulo Marinho em 03/02/2013
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