ASAS DE GELO
Sobre vejo-me sempre
marcando as saídas
dos labirintos, ocasionados
pelas contradições inusitadas,
pelas cartas já marcadas,
pelas flores murchas
que terra boa e água pura
não revitaliza, não renasce
que de vez se faz, condenadas...
saio em busca de um salto
como um voo de Ícaro
mas com asas de gelo
procuro me distanciar, indeciso
com asas fortes alongadas
livre aproximar-me mais perto do sol,
sem que descambe derretido
sem que morra desapercebido
moribundo, escachelado ao solo...
percebo-me alheio aos ensejos
dos festejos, dos passeios
dos dias originais, das noites cálidas
dos risos largos, dos abraços sentidos
das conversas longas falando da vida,
percebo-me arredio, um separado
solitário extraviado que jaz condenado
que não caminha, perambula solitário
sobre os serenos noturnos,
em orvalhos pisados, desfeitos
o tempo não corre, inerte e latente
pulsa, em coração apertado
choroso, lastima, se derrete
de sua amarga rotina
dos dias iguais, inaturais
e, aos caíres das tardes
todas as lembranças
se concretizam, se preconizam, refazendo
os labirintos, buscando saídas
sem encontrá-las, não vejo flores
não vejo água pura, não vejo nada
só busco novos saltos,
para também novos voos
nunca muito distantes
jamais próximo do sol...
Romulo Marinho