Livro da Vida

Despertei de um longo sono

Lendo um longo livro

De uma vida curta demais

E muito longa

Suas páginas passavam

E ali estava eu

Minha vida impressa – impreciso foco

Continuei a olhar

Não me entusiasmei

Minha vida era branca

Páginas em branco

Nem amor, nem ódio

Só páginas e mais páginas

E o nada

Nada de bom

Achei aquilo tudo muito ruim

E entediante

No livro

Só páginas e páginas

De um livro esquecido

Jogado em um canto

À mercê do tempo

De todo tipo de intempéries

Uma vida deixada

Esquecida

Branca

Transparente

Nada inexistente.

CARLOS CRUZ - 1988