TODO HOMEM E TODA MULHER...

Todo homem e toda mulher,

pelo menos uma vez ao mês,

deveriam ter direito de tornar a ser criança.

Brincariam com as coisas

que não são mais brinquedos,

fariam das pedrinhas, bois e vacas;

encantariam passarinhos, seus braços

seriam galhos onde pousariam uma chusma!

Inventariam letras para a música dos sapos,

Imitariam o guinchar dos macacos,

voltariam a correr das abelhas,

tomariam banho de córrego,

laçariam potros e bezerros!

Todo homem e toda mulher,

pelo menos uma vez ao mês,

deveriam ter direito de tornar a ser criança.

Criariam estórias verdadeiras para os adultos,

moldariam outras à feição da ingenuidade,

adultos espertos acreditariam piamente.

Outros, que adoram destruírem mundos,

diriam é logro, menino tem miolo mole!

Seriam donos das formigas, lagartas e lagartixas.

Algumas dessas seriam seus jacarés, outras,

monstros terríveis que devoram crianças.

Tingiriam a boca com doces amoras,

furtariam goiabas dos passarinhos!

Todo homem e toda mulher,

pelo menos uma vez ao mês,

deveriam ter direito de tornar a ser criança.

Correriam feitos loucos para alcançar o arco-íris,

voltariam imitando bem-te-vis, dos beija-flores

tentariam roubar a velocidade e o brilho

das penas; e todos de pés no chão

atropelando formigas operárias!

Poderiam brincar com terra, sujar as roupas.

Seriam crianças daquele tempo que o tempo

ainda era criança. O espírito daquela época

é que me tange e faz acreditar que o tempo

ainda não envelheceu em mim. Bobagem!

Todo homem e toda mulher,

pelo menos uma vez ao mês,

deveriam ter direito de tornar a ser criança.

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 30/01/2013
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