TODO HOMEM E TODA MULHER...
Todo homem e toda mulher,
pelo menos uma vez ao mês,
deveriam ter direito de tornar a ser criança.
Brincariam com as coisas
que não são mais brinquedos,
fariam das pedrinhas, bois e vacas;
encantariam passarinhos, seus braços
seriam galhos onde pousariam uma chusma!
Inventariam letras para a música dos sapos,
Imitariam o guinchar dos macacos,
voltariam a correr das abelhas,
tomariam banho de córrego,
laçariam potros e bezerros!
Todo homem e toda mulher,
pelo menos uma vez ao mês,
deveriam ter direito de tornar a ser criança.
Criariam estórias verdadeiras para os adultos,
moldariam outras à feição da ingenuidade,
adultos espertos acreditariam piamente.
Outros, que adoram destruírem mundos,
diriam é logro, menino tem miolo mole!
Seriam donos das formigas, lagartas e lagartixas.
Algumas dessas seriam seus jacarés, outras,
monstros terríveis que devoram crianças.
Tingiriam a boca com doces amoras,
furtariam goiabas dos passarinhos!
Todo homem e toda mulher,
pelo menos uma vez ao mês,
deveriam ter direito de tornar a ser criança.
Correriam feitos loucos para alcançar o arco-íris,
voltariam imitando bem-te-vis, dos beija-flores
tentariam roubar a velocidade e o brilho
das penas; e todos de pés no chão
atropelando formigas operárias!
Poderiam brincar com terra, sujar as roupas.
Seriam crianças daquele tempo que o tempo
ainda era criança. O espírito daquela época
é que me tange e faz acreditar que o tempo
ainda não envelheceu em mim. Bobagem!
Todo homem e toda mulher,
pelo menos uma vez ao mês,
deveriam ter direito de tornar a ser criança.