Os pássaros cantam

Os pássaros cantam ao longe...

Como em todas as manhãs

os pássaros cantam...

ao longe,

nas nuas manhãs cinzentas

despertando a luz úmida

que sorve a fonte escura

do horizonte engolfado

em sombras emudecidas

A manhã pendura gotas

de orvalho e névoa

nas pétalas e nas folhas

das flores tocadas pela

brisa leve e sagrada

Da minha janela ouço

a vertigem do mundo

A vida freme melódica

de longos trinados

superpostos pelos

rumores do dia

coercivamente nublado

Da janela vejo as casas

que se amontoam nos morros

Casas verdes, amarelas, azuis

e seus telhados vermelhos e sozinhos

Em volta pedra e capim e árvores

dão cores ao dia sonolento

e abrigo aos pássaros que cantam ao longe

Crianças brincam na manhã

plena de eternidades

dissolvidas nos ventos

que se deitam no ziguezaguear

das pipas que colorem o ar

Tudo é fremente solidão e êxtase

neste domingo que é sonho

e metáfora das horas que restam

de uma vida inteira

Por entre as réstias de um sol

roído pela sombra

os pássaros cantam o verão