DESASTRE

Somos todos iguais nesta noite

e nos encharcamos com o açoite

desta impunidade que nos cerca,

arrebata, invade e destrói:

destrói nossos muros, pontes e cercas.

Noite sem lua, estrelas ou fim,

somos escravos de teu querer,

obedecemos compulsoriamente, ao teu não e sim

e nada irá te deter de nos tirar

pulmão, costela e rim.

Ficamos vivos, mas agonizantes

com esta noite cheia de breu,

não sei ond eé terra, mar ou céu

e a vida toda se entrega

ao caos desta noite negra.

Estamos mortos, quase vivos

e no corpo mora o gene do perigo

que nos acostumamos a ver.

Perigo-fato-impunidade:

mistura fatal, sem piedade;

não vivemos, mas queremos viver.

Parecidos, semelhantes, iguais!

Sim, somos todos iguais:

peixes, conchas, areia, sais,

homens, gaivotas, praia e mar.

Somos todos iguais nesta noite

e o amanhecer, não olho.

Somos todos iguais

nesta noite,

noite triste e suja

de óleo.

Redação do Vestibular Unisanta, em 19 de Janeiro de 1992

Marcelo Lopes
Enviado por Marcelo Lopes em 27/01/2013
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