O criar
O começo é sempre mais doloroso.
A ideia não vem.
As palavras certas não surgem.
Mas o sentimento está ali, ardendo no peito.
Ardendo e gritando como o fogo e o silêncio
Que tanto incomodam.
Mas no primeiro toque nas teclas
Da velha máquina,
No primeiro rabisco feito a caneta,
Tudo desaba.
E com a força da água da imaginação
Minha mão não mais responde por si.
Meus sentimentos e pensamentos
Esparramam-se em qualquer papel,
Em qualquer guardanapo.
Manchando, com a tinta que sai dos meus pulsos,
Todo o calor que me sustenta,
Todo medo que me abriga e
Toda paixão que me possui.
Torno-me apenas um intermédio.
Apenas um meio de locomoção
Do meu sentir para o seu saber,
Do meu crer para o seu viver,
Do minha dor para o seu prazer,
Do que há em mim para o que haverá em você.