[É Permitido Sonhar-me - Variante 1]
É possível escolher um sonho.
Enquanto eu não me desfaço
numa mescla de luz e sombra
na mente de quem me sonha,
eu existo aí, e só aí, nesta estreita fenda
do espaço-tempo que nos une.
E declaro: sou um ser de agonia,
mas é permitido sonhar-me
[para o bem ou para o mal de quem
não consegue evitar sonhar-me].
A quietude de agora é só um lapso enganoso.
Em breve, o meu rosto há de se desfazer
como se estivera refletido num espelho de água
ou como se fora uma miragem numa planície de sal...
"O meu tempo é quando" —
é só a agonia do esvaecente quando!
Luz, sombras, palavras...
e na distância que se impõe,
a fantasia da realidade se dissipa
na névoa da chuva insistente...
Consola-me o barulho macio
dos pneus no asfalto molhado.
Não preciso de rumo, preciso só de ir...
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[Desterro, 25 de janeiro de 2013]