Bêbado
Tanto tempo que não ganho um porre,
saudade de perder o nexo, o complexo,
descompromissar-me com o mundo são,
trazer convulsão, confundir minha razão.
Fazer versos ébrios e perdidos na fala boba,
transgredir a certeza, tornar o mar vermelho,
comprar bilhete do sul pensando ser do norte,
ter um olho azul outro castanho no espelho.
Tanto tempo que não assanho o impróprio,
e não contesto o óbvio, e não adoto o ópio,
é como viver apenas normal, cada processo,
indigesta rotina, que contamina o abcesso.
Fazer poemas soltos e declarados incorretos,
seguir a estrada real, num caminhar plebeu,
detonar matéria comum em estéreis objetos,
ter o olhar desprendido do perfil que sou eu.