Bêbado

Tanto tempo que não ganho um porre,

saudade de perder o nexo, o complexo,

descompromissar-me com o mundo são,

trazer convulsão, confundir minha razão.

Fazer versos ébrios e perdidos na fala boba,

transgredir a certeza, tornar o mar vermelho,

comprar bilhete do sul pensando ser do norte,

ter um olho azul outro castanho no espelho.

Tanto tempo que não assanho o impróprio,

e não contesto o óbvio, e não adoto o ópio,

é como viver apenas normal, cada processo,

indigesta rotina, que contamina o abcesso.

Fazer poemas soltos e declarados incorretos,

seguir a estrada real, num caminhar plebeu,

detonar matéria comum em estéreis objetos,

ter o olhar desprendido do perfil que sou eu.

Dado Corrêa
Enviado por Dado Corrêa em 26/01/2013
Reeditado em 29/12/2013
Código do texto: T4105999
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