Três meninas
Léa penteia os cabelos e vai.
Lia pisa na areia e sai.
Lia não tem preconceitos,
Léa é só elogios.
Léa não anda sozinha,
Lia tem medo até de pensar.
Léa sempre sabe demais.
Lia indaga quem vem do cais.
Lia anda devagar
Lea apressa o andar,
E o que é que Lia tem de novidade?
E o que é que Lea sabe e não conta a ninguém?
E o que Lea aprecia e só diz à Lia?
E o que é que Lia faz rir à Léa?
Elas não têm temperança, só vão e vêm;
Juntas riem, falam, escrevem, desenham
E ficam as duas meninas horas e horas
Na janela, na esquina, no rio,
Sobem e descem escadas cantarolando,
Apreciando o dia que termina,
A noite que começa,
E a mãe não sabe
Por onde vão as meninas,
Se vão encontrar amigas,
Se procuram no bar
Um doce, um sorvete
Ou compram um chiclete
Antes de jantar.
Ah, essas meninas
São alegria da mãe,
São tesouros do pai,
Só deixam confuso
O moço desavisado,
Recém chegado da capital,
Ele não sabe se fica com a Lia,
Se gosta mesmo é da Léa;
Elas brincam com ele,
Trocam de nomes as gurias
E ele sai de mansinho,
Pergunta à Maria,
_Afinal, quem é mesmo Lia?
Qual das duas é Léa?_
Meninas atrevidas
Que do pensamento
Não saem, por mais que ele
Tente, não sabe, desconhece
Como identificar.
Só sabe que uma escreve
Com letras de forma seu nome,
A outra lhe desenha um coração,
E vão enrolando o moço
Que vai ficando, gostando
De prosa fiada, de boa risada
Da Léa e da Lia,
Uma após outra,
Às vezes juntas,
Outras, separadas.
Mas ele não sabe
Que a Léa quer primeiro estudar
E a Lia, não pensa ainda em casar,
Só mesmo se o moço quiser
Conhecer melhor a Maria,
Essa,sim, coze e costura,
É doida por um baile,
Um namoro no sofá e café;
Quer mesmo é casar,
Já tem pronto o enxoval.
Maria tem mais juízo,
É mais velha,
Tinha dois anos
Quando as gêmeas nasceram
E não deram mais sossego,
Só risos e gargalhadas,
Casar, não; só palhaçadas,
Maria, sim, é de casar.