Tempo. Inspira, expira, conspira.
Tempo inspira, conspira, expira
vira mazela, vira quimera, se faz de ido,
como um atento vulcão é cruel, atroz, é voz.
Os tempos que tenho são folguedos alegres, desbarbados, soturnos,
sortudos.
Carrego cada um deles entre as rugas brutas da minha alma.
Espero um dia vê-los mortos, embalsamos, esquecidos, qual nada.
Meus tempos são senzaleiros, primaveras que trago num gole só.
Muitos deles desatrelo dos meus ossos quando bem quero,
parecem que só aguardam minha ordem para sorrir, mesmo.
Dentro de mim habitam todos os tempos do mundo,
até aqueles que nem ainda foram paridos,
mas já lá estão, íngremes como a saudade, ásperos como o perdão.
Tem dias em que morro de vontade de afagá-los, ou afogá-los, vai saber.
Mas sempre voltam para suas tocas como assustado moleque flagrado roubando fruta do vizinho.
Estes tempos são meus guizos, minhas alforrias, meus facões afiados prontos pro bote fatal, ou pro gozo final.
Estes tempos, gingando meio bêbados, meio Deus, atiçam cada quinhão de vida que vou empurrando sem pressa, na boa.
E nessa raça pródiga, se faz sonho, se faz rombo, se faz arroubo.
Tempo mundano, safado, cabisbaixo por vezes, mas meu, todo meu.
E que hoje, de um jeito ou de outro, está mais feliz. Feliz como nunca, feliz como sempre. Feliz como sempre será, meu querido e guerreiro tempo de todo sempre.
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