Intenso
Intensa a tua presença,
teu porte, tua figura,
teu beijo que me transforma
num ser sem vontade própria.
Intensa a tua fome, a tua sede,
teu desejo, tuas vontades.
Intensíssima tua alegria,
mais ainda tua indignação.
E é intenso como a luz nua
do sol do meio dia
teu abraço no meio da noite.
Intensos teus arroubos,
até teu silêncio, intenso,
cortante como um desprezo,
profundo como a escuridão.
Assim, intensa, deve ser
a vida a teu lado:
não diz respeito aos mornos,
aos mortos, aos mais ou menos.
Não se coordena com os quase,
os ainda não, os mais tarde.
E nesse intensidade, que suscita,
como sob névoa densa,
olhares atentos e ausência de medo,
tento me mover, vagarosa,
acostumando-me aos contrastes,
às cores fortes, às luzes em demasia:
olhos deslumbrados, num transe
que oxalá nunca termine.