MOSCA BRANCA*
MOSCA BRANCA*
Sozinho num quarto de hotel
Penso em você... Em quem mais pensaria?
Poderia pensar na mosca de cabeça branca!
Criação da loucura de um cientista louco.
Sou assim que eu sinto perante você...
Mosca de cabeça branca preso numa teia de aranha,
Berrando por socorro para tentar voltar a ser o que era.
Sabendo que jamais tornarei a ser novamente o que era.
Sozinho neste quarto de hotel penso em você...
Penso na transformação que passei quando a conheci.
Hoje sou um eu no espelho que não se sente eu,
Às vezes sou tão você que tenho saudades de mim.
Preso na teia da aranha eu berro por mim,
Berro como o bezerro berra pelo úbere da mãe.
Quero o eu que está em você.
Tenho saudades do seu toque.
Saudades do seu toque em seu cabelo.
Quero sua voz a chamar o meu nome.
Quero cada corda da teia vibrando com o som de sua voz.
Hoje sou apenas uma experiência da vontade de Deus.
Da vontade de Deus ou de um cientista louco?
Quero ter um coração mecânico sem sentimento.
Quero deixar de viver escondido atrás da mascara de palhaço
Que esconde a cara da mosca branca,
Da aberração de quem teve o amor e perdeu para o destino torto.
Resta-me apenas andar pelas avenidas movimentadas,
Buscando o consolo da sorte do atropelamento,
Que no esmagamento de meu crânio,
Você reconheça o meu corpo e o meu coração
E ao reconhecer estas partes você lembre-se do humano que te amou um dia...
André Zanarella 19-03-2012
*Referencia ao filme “A Mosca da Cabeça Branca (The Fly) - 1958”