Ao amor sem nome.
O difícil não é tentar gostar ou até mesmo me apaixonar por alguém, mas, depois que tudo acabar, continuar respirando sem que meu corpo trema, se arrepie e definhe lentamente.
Amar é fácil, assim como a morte você só precisa fechar os olhos e deixar que aconteça... Mas diferentemente da mesma, amar machuca quando você não é o primeiro a deixar de se entregar.
E eu me apaixonei por uma pessoa especial e única, alguém que perante os meus olhos era como a brisa de dezembro a soprar sobre meus cabelos descalços.
Ao abrir meus olhos me deparei com seu rosto, à curva que ia da orelha ao fim de queixo e descia pelo pescoço, passava pelos lábios durante o percurso e seguia aos olhos que ainda estavam fechados, na minha mente eu não te conhecia e nunca havia realmente te visto, mas no meu corpo você era como a única substância capaz de ascender à vida que havia em mim.
Meus dedos se fecharam em volta dos teus e algo quente percorreu o meu corpo, desceu a ponta dos meus pés e foi preenchendo cada pequeno espaço em mim, as fagulhas existentes dentro dos meus olhos se acenderam e minha alma foi refletida em teus olhos quando os mesmos se abriram, mostrando-me pela primeira vez um pouco do universo estrelado que não é possível ver entre os arranha-céus desta cidade entorpecida pela modernidade.
Um sorriso se plantou na suave linha do teu rosto e o meu retribuiu com carinho, algo me dizia que eu poderia amar-te durante anos e mesmo assim não me importar se sabia seu nome, pois a única realidade plausível e aceitável era que você era meu e o meu mundo não mais existia entre as paredes daquele mausoléu chamado coração.
Segundos, minutos, horas, dias... Meses? Não sei. E, por Deus, eu daria tudo pra saber ao menos quem você é!
Meus dedos circularam os teus por noites e dias inteiros até descobri que o que tínhamos era apenas um acordo, um combinado, algo que de nada tem além um falso prazer mútuo.
Quando você sumiu os meus olhos perderam o brilho e meu coração pareceu se quebrar, naquele momento eu soube que nem palavras e nem promessas seriam o bastante para remendar os estragos que naquele momento desfiguravam cada centímetro da minha resistência interna. Era como ácido corroendo o ferro e, por desgraça, eu estava sendo o ferro.
Queimando por dentro como algo que não merecia viver, eu cometi o maior erro que alguém seria capaz de fazer em milhões de anos; Apaixonei-me por alguém e o segundo maior erro, entreguei meu coração. Mas a pior parte é que você nunca percebeu isso realmente, percebeu?
Os dias se passaram e de alguma forma eu sabia que você voltaria, mas com alguém ao seu lado. Meus olhos se encheram de palavras nunca ditas e os mesmos despejaram sobre meu rosto uma chuva de cacos de vidros, que me rasgaram a face e debulharam-se uns contra os outros. Eu estava perdido ou ao menos queria me sentir assim, de alguma forma eu havia perdido o chão sob meus pés e começava a ruir em declínio. As palavras já estavam ali diante de mim – BEM VINDO AO MEU MUNDO... E QUE A INSANIDADE ESTEJA CONTIGO.
Preso em um mundo que não era meu. Estava entregue aos leões e pronto para ser morto. Mas então eu me reergui e cometi outro erro, briguei por você. E as palavras que mais marcaram ainda latejam na minha mente, “você não é o monstro que diz ser, apenas teme sofrer, pois quando ama se entrega e ama intensamente ao ponto de não saber existir. Mas você nunca me perguntou se eu também queria algo sério”, e as minhas palavras não saíram, mas ainda me lembro, com nitidez, as cenas que se sucederam a essa. Meus dedos entrelaçados aos teus e o um mundo sem mais ninguém.
No fim de tudo eu me apaixonei por alguém que não existia, não “UMA MULHER INVISÍVEL”, mas alguém inexistente. Meus olhos se abriram novamente e dei por mim que estivera preso em um sonho, outro sonho... Apenas uma ilusão projetada pela minha mente para provar o quão confuso esse mundo ainda consegue ser.
Mas a pior (ou a melhor) parte de tudo é que eu amei... Mesmo que tenha amado não existir, ou a inexistência. Eu amei como me senti com você e é a esse sonho que dedico essas palavras. Ao amor inexistente... Ao amor sem nome. Porém, o mais puro, por que esse é real.