[A Tristeza que me Torna Bom]

Em alguns momentos,

eu fujo dela,

em outros,

quando ela se afasta,

eu anseio por ela!

Faz-me falta a tristeza,

sim, faz-me falta sentir

que o meu rosto tornou-se bom

porque assim o fez a tristeza

que o lavou com lágrimas

e o deixou assim, calmo, a secar ao vento,

a saborear a crua ferocidade da vida!

A arte da tristeza...

Será o transe de sentir a verdade

[alguma verdade!]

brotar com as lágrimas,

a arte de se manter em cena

e de dominar a dor surda?

A tristeza precisa se prolongar no tempo

até consumir, até calar o mínimo

traço da insanidade do riso

que teima em se desenhar

nos meus lábios trêmulos, secos...

Se não for assim, a catarse falha!

Não posso pensar,

não posso sorrir,

não posso futurar,

não posso nem sonhar —

devo me manter assim,

de peito aberto, para deixar entrar

a tristeza que me faz sentir melhor;

a tristeza que ameniza o absurdo

da minha existência sem nexo;

a tristeza que me embala na gangorra existencial

da angústia do meu olhar que tenta,

e quase consegue, varar a neblina sobre a estrada!

Posso ser bom...

mas posso ser ainda melhor

quando renuncio

a qualquer busca,

a qualquer esperança

de resgate do meu barco,

e quando grito sozinho

para o oco do mundo:

— “Esta merda esfarelante sou eu!!!”

__________________________

[Desterro, 19 de janeiro de 2013]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 20/01/2013
Código do texto: T4094167
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.