[A Tristeza que me Torna Bom]
Em alguns momentos,
eu fujo dela,
em outros,
quando ela se afasta,
eu anseio por ela!
Faz-me falta a tristeza,
sim, faz-me falta sentir
que o meu rosto tornou-se bom
porque assim o fez a tristeza
que o lavou com lágrimas
e o deixou assim, calmo, a secar ao vento,
a saborear a crua ferocidade da vida!
A arte da tristeza...
Será o transe de sentir a verdade
[alguma verdade!]
brotar com as lágrimas,
a arte de se manter em cena
e de dominar a dor surda?
A tristeza precisa se prolongar no tempo
até consumir, até calar o mínimo
traço da insanidade do riso
que teima em se desenhar
nos meus lábios trêmulos, secos...
Se não for assim, a catarse falha!
Não posso pensar,
não posso sorrir,
não posso futurar,
não posso nem sonhar —
devo me manter assim,
de peito aberto, para deixar entrar
a tristeza que me faz sentir melhor;
a tristeza que ameniza o absurdo
da minha existência sem nexo;
a tristeza que me embala na gangorra existencial
da angústia do meu olhar que tenta,
e quase consegue, varar a neblina sobre a estrada!
Posso ser bom...
mas posso ser ainda melhor
quando renuncio
a qualquer busca,
a qualquer esperança
de resgate do meu barco,
e quando grito sozinho
para o oco do mundo:
— “Esta merda esfarelante sou eu!!!”
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[Desterro, 19 de janeiro de 2013]