Despensa

a casa era na rua do fogo

já era velha, as paredes

descascadas, o piso duro

de chão batido...

na descida, perto do sol,

perto da dor, do pedido

de atenção, meus olhos

recebia as manhãs sonoras;

o grito das nuvens e o bocejo

do fim da tarde

alguns mortos já pairavam,

como sombras dentro dos

sentidos, abraçava-me o

cheiro de perda, a solidão

ainda sem nome, e o amor

como nos livros, beirava

a beira de minha fome,

e minha e de vontade

imerso, eu sorria para os

pássaros, as bananeiras,

as mangueiras com seus

sinos caidos, suas frutas

pequenas brincado no

vento, o chuva, os verões

era quentes e molhados,

lavava o meu desejo de

ser feliz, e renova a

esperança, já estraçalhada;

e eu cantava alegre torcendo

o coração como uma tolha

úmida, uma gota de sangue

era suficiente, e limpava o

o brinquedo do dia puxado

do pó que grudava nos pés

na indecisão de viver ou me

juntar a tristeza que sai da

despensa...