ODE TERRESTRE
Não sinto saudades do Fernando Pessoa
Nunca sentirei saudades dele
Não posso querer sentir saudades dele,
Pois nunca o conheci na verdade,
Mas o que é a verdade?
A verdade é que os poetas são palavras encarnadas,
Dos quais germinam poemas em ventres cefálicos
A pessoa do Pessoa nada mais era
Que uma prisão de dor e escuridão para sua poesia,
Poesia que ele paria constantemente quando se sentava a escrever versos
Mas tinha a certeza de que seria interrompido antes de terminar...
Pois a noite viria e a alma era vil (no sentido mais vil da palavra)
Ninguém o saberia de fato
E se o soubessem, o que saberiam?
Um fingidor?... Talvez.,
Que importa, então, sabê-lo?
Ele se foi desta
Não sei se pra pior ou pra melhor,
Para outra ou para nenhuma,
Mas se foi para sempre, conhecer, pois toda a escondida
Verdade do que é tudo que há ou flui.
E para nós, ficaram os filhos de suas dores,
Estes filhos latumiadores
E cada um vem muito longe, nítido, clássico a sua maneira.
Carregando em si todos os sonhos do mundo.
Destes, eu sinto saudades,
Não do Pessoa...pessoalmente.