Raízes surdas

Difícil é o sossego pra viver minha agonia

e mesmo sossegado, em estado de chuveiro

não vivo sem que me entrometam;

assim segue a vida em convívio:

amor sedento por pilares

em casa que não precisa de teto

mas em verdade vos digo:

quando de tudo ao avesso

o céu vire nosso piso

as estrelas estejam dispostas

a serem mortas e que paredes e portas

afogadas mudas em suas cumplicidades

não percam nem ao pé do ouvido

nem de longe, sua utilidade

e no curto trecho das aberturas

creio que nem precise falar das chaves

até porque podemos levar uma conversa sadia

não a gritos como de longe, mas sereno

agora sim, rente ao ouvido;

nos estranhos dias em que

assustadora é minha calma

igualmente assustadora é a calma alheia

derreto em qualquer canto de parede

frio, tento escutar ao máximo

o barulho que o branco silêncio meneia.