(Dom Luis de Góngora traduzido por Sérgio Pachá) PUBLICAÇÃO AUTORIZADA

Tânia querida,

O tradutor (de Francês, Inglês, Latim, Espanhol e Italiano), meu caríssimo amigo Sergio Pachá, autoriza a publicação, como você vê abaixo.

Um abraço. Wagner

*

Autorizo com grande prazer, querido poeta. Para mim é uma honra ser lido e julgado pela culta elite de Sergipe, que você com tanto brilho representa.

Sergio.

*

NOTA DE SÉRGIO PACHÁ:

Depois da conferência "La Imagen Poética de Luis de Góngora", de Federico García Lorca, e dos estudos e análises que Dámaso Alonso consagrou à obra do poeta cordobês, somente um ignaro ou um fátuo satisfeito insistirá em apodar de gongórico o estro de Dom Luis. Eu tive a boa fortuna de, por dois trimestres, participar, na Universidade da Califórnia, de um seminário sobre este genial andaluz, ministrado por outro andaluz - este de Granada, como García Lorca - meu saudoso amigo e mestre Enrique Martínez-López. E para sempre me rendi ao Cordobês.

Aqui vai uma letrilha gongorina, ressumante de lirismo e lágrimas, que em nada lembra a sombria carranca imortalizada em tela por Velázquez. Leiam-na: nosso Luís - o de Camões - não a teria feito melhor.

S.P.

***

(Dom Luis de Góngora)

La más bella niña

de nuestro lugar,

hoy viuda y sola

y ayer por casar,

viendo que sus ojos

a la guerra van,

a su madre dice

que escucha su mal:

Dejadme llorar,

orillas del mar.

Pues me distes, madre,

en tan tierna edad

tan corto el placer,

tan largo el penar,

y me cautivastes

de quien hoy se va

y lleva las llaves

de mi libertad,

Dejadme llorar,

orillas del mar.

En llorar conviertan

mis ojos de hoy más

el sabroso oficio

del dulce mirar,

pues que no se pueden

mejor ocupar

yéndose a la guerra

quien era mi paz.

Dejadme llorar,

orillas del mar.

No me pongáis freno

ni queráis culpar,

que lo uno es justo,

lo otro por demás.

Si me queréis bien

no me hagáis mal;

harto peor fuera

morir y callar.

Dejadme llorar,

orillas del mar.

Dulce madre mía,

¿quién no llorará,

aunque tenga el pecho

como un pedernal

y no dará voces

viendo marchitar

los más verdes años

de mi mocedad?

Dejadme llorar,

orillas del mar.

Váyanse las noches,

pues ido se han

los ojos que hacían

los míos velar;

váyanse, y no vean

tanta soledad

después que en mi lecho

sobra la mitad.

Dejadme llorar,

orillas del mar.

***

(Dom Luis de Góngora)

A moça mais linda

do nosso lugar,

viúva hoje e só

e ontem por casar,

vendo que seus olhos

vão-se a guerrear,

diz para sua mãe

que escuta seu mal:

Deixai-me chorar,

ó praias do mar.

Pois me destes, mãe,

menina ainda assaz,

tão curto o prazer,

tão longo o penar;

e me cativastes

a quem se hoje vai,

levando o segredo

do meu respirar,

Deixai-me chorar,

ó praias do mar.

Em chorar meus olhos

mudem mais e mais

o afazer suave,

de olhar seu olhar,

já que se não podem

melhor ocupar,

quando vai à guerra

quem era minha paz.

Deixai-me chorar,

ó praias do mar.

Não me ponhais freio

nem queirais culpar:

se uma coisa é justa,

a outra o é por demais.

Se me quereis bem,

mal me não façais,

muito pior fora

morrer-me e calar.

Deixai-me chorar,

ó praias do mar.

Minha doce mãe,

quem não chorará,

tenha embora o peito

de pedra e de cal,

quem não dará brados,

vendo definhar

os melhores anos

do meu desbrochar?

Deixai-me chorar,

ó praias do mar.

Que se vão as noites,

pois não tenho mais

quem meus olhos tinha

nos seus, a velar.

Que se vão, nem vejam

desviver-me já

desde que, em meu leito,

só, me hei de deitar.

Deixai-me chorar,

ó praias do mar.

(Tradução de Sergio Pachá)