Um dia...
Um dia...
Um dia fui poeta
Criava versos
Amava a vida
Fazia protestos
Colhia as estrelas
E minhas musas
Eram as mais belas
Um dia fui pedinte
Ganhava o mundo
Recebia o amor
Eu tinha tudo
Vivia de quimeras
E a minha vida
Era uma primavera
Um dia fui livre
Senhor de tudo
Dono do cosmos
Patrão do mundo
Corria pelos quintais
Colhendo sonhos
Eu era mais que demais
Hoje eu não sou poeta
Não gero mais versos
Não sonho como outrora
Nem faço mais protestos
Hoje não peço mais nada
Apenas compro do mundo
Recebo sempre seus trocos
E alguns amores turvos
Hoje eu estou preso
Cortei as minhas asas
Não adubei o papel
Faltam-me então palavras
Sou apenas e nada mais
Alguém chamado de ninguém
Poeta sem versos
Pedinte de vida
Preso no mundo
Um ser muito aquém
Sou apenas e nunca mais
Algo normal, sem ser nem ter
Um poetastro
Um empregado
Um prisioneiro
Um ser, apenas um ser.
Mário Paternostro