ALIMENTO DE MIM
São cinco e trinta e nove da manhã
De mim.
Os sentimentos gritam por sair, mas estou passivo a eles
Que me mexem, me agitam.
Os afazeres e os deveres são quereres impostos
Que me obrigam a me esquecer
E seguir sem nem pensar
Sem nem dizer das coisas do mundo
Não que o mundo esteja sem respostas
Sem sonhos ou fantasias
Posto que a fantasia está em mim
Não é isso.
É o parar mesmo
É o olhar diferente para as gentes que passam
Diante de mim
E que preciso ver mais e além
Ter olhar biônico, essa é a questão
Entregar as cartas do baralho me deixa cego
Me retira dos choques de mim e do outro
Que me humaniza e me dilata
O dia acontece, mas não acontece de verdade
(exijo demais: verdade...)
O mundo está em suspenso. Caminha, porém.
As coisas parecem ser e não: que questão
Por que preciso tanto desse estar alheio
Virar fantasma de mim e planar sobre tudo.
Meu espírito é pequeno demais
E deseja sempre ser alimentado para poder sobreviver.
Digo e repito: tenho medo de morrer de fome de mim, do outro e do mundo
A fome do mundo: é isso
Sinto essa fome
Que nunca é saciada, logo infinita de mim
A vontade animal de alimento da vida
E olhá-la mais e profundo.
O mundo é o alimento
Vários alimentos em um
Cores em uma
Sabores únicos
Espaços limitados
Presos por travessas de mim