Após um ano inquieto

Foram tantas noites em claro

Tantas auroras que presenciaram minha agonia

E os conflitos, que mantinham aflitos

Os desejos e as amarguras, tão simples, tão puras

Pois da vida, apenas seus sonhos são bonitos

Mas enfim, comprei minha salvação

Quatorze salvações no pente, e uma na agulha

Agora, só esperar "o momento"

Bum! A existência te dará "o tal" provimento

E nunca mais vou sentir essas fagulhas me corroerem

Liberdade para o meu peito, é o que revindico

O ano passado me devastou, em nada mais acredito

Irrecuperável, só "o dragão" me restou

E vai cuspir fogo, belamente, brevemente

Vai ser um verdadeiro festim para os descrentes

Após um ano inquieto, querendo voltar a ser feto

Na melhor das hipóteses, um lindo aborto

Só pra sufocar e matar os meus tormentos

Tomentos em devaneio sob meu espirito

Que rasteja no imenso covil dos rejeitados

Maldito momento, onde me custava dormir

Onde, ao dormir, sofria ao pensar em acordar

Sair da cama era certeza de me arrasar

Olhar para os outros, o pior e mais dolorido pesar

Como eu queria, dormindo, partir e nunca mais voltar

É assim que as coisas te destroem, sendo "coisas"

E no exato momento da fagulha

Essas coisas "reais" vão sendo interpretadas

São lindas ontem, confusas hoje e horríveis amanhã

Morrer, pra viver em paz, não-vivo, como se faz?

O segredo é separar o sistema nervoso dos pensamentos

Deixemos os pensamentos para os que pensam sobre nós

E o sistema nervoso, pra que serve afinal?

Pra nos alertar que o mundo é o mundo

E que somos a cria do deus da matéria e energia

Hoje, qualquer percepção não me tem mais sentido

Minha boca não sabe dizer coisas bonitas

Meus olhos, úmidos e salgados, absorvem luz doloridamente

E tudo que toco vira desgraça, minhas mãos, a amarra do sofrimento

O cheiro de podre, esse vem do meu pensamento

Só meus ouvidos servem, para ouvir o "bum" do acalento

Tantas salvações no pente, preciso ir em frente

Ninguém vai saber o que fui, mais um louco demente

Mais um qualquer mal formado pelo mundo dos pensamentos

Mas que vai dar uma festa bonita,

Com quatorze salvações no pente, e uma agulha adentro