A desarrumação dos intestinos
Assombra! Vede-a! Os vermes assassinos
Dentro daquela massa que o húmus come,
Numa glutoneria hedionda, brincam,
Como as cadelas que as dentuças trincam
No espasmo fisiológico da fome.
- Augusto dos Anjos –
ABUTRE
Livres o vento
E o pássaro pensamento
No instinto do abutre
Que o nutre.
Verte a gosma do espasmo,
Vísceras no vômito
Do ser animal
Homem bestial
Indômito.
Livre a lira
Na letra que inspira,
Afeta e desafeta
O poeta.
Ave de rapina
Voraz, feroz, assassina,
Mete o bico, iça
A carne, a carniça
Que a seduz
E cheira, e prova, e come, e deita,
E dorme satisfeita
De carne e de pus.
Depois, farta do fardo estorvo,
Finge não ser um corvo
E, numa golfada de fel,
Expele num branco papel
Uma jorrada de amor
Como se poeta fosse, ou se fizera,
Condor.
- Hermílio -
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