"Chuva fininha é garoa"
Arrabaldes de luar
Se possível fosse remover do teto os astros
E com eles uma estrada formar de perfeições
Ministrar aulas de poesia
Lições de ser e de não ser
Dizer verdades de mármore
Mas que soassem cânticos
Volteios quânticos
Destacar das asas dos anjos
Penas douradas
Construir arrabaldes de luar
Abrir portas e engalanar janelas
Pois pelas flores e só por elas
Respirar vale a pena
Escrevo nas extremidades dos dedos
Versos de brinquedo
*
Said Schoucair
Ele não falava
Sonhava
Assobiava
Respondia aos pássaros
Via o mundo com olhos de notas musicais
Ele mora no meu imaginário
O meu vizinho
Canta ainda
No canto do canário
*
Lent(a)
Mente
Lente
Foca
Liza
Escorrega
Dia
Ria(mente)
*
Folia
Acredito tão somente
Em papel crepom e folia
No chão onde nasce o alecrim
Daquilo que falam tantos
E a outros causa espanto
É figuração, lazer
*
Poema da redenção
O solo absorve o líquido
Da veia poética brotam mimos de acácias
Espalham-se ao redor os miosótis
O sol doura as folhas na relva
Compõe em carnes naturais
O poema da redenção
*
Jesus e Pedro
Eis que o mundo reinicia
Prometemos
Repetimos
Asseguramos
Uma depois de outra vez
Mesmo de antemão cientes de que
Prometemos sem a certeza
De a promessa cumprir
Ainda assim
Teimamos
E, com a estrela,
Diante de nós a luzir
Asseveramos intensamente
Amar
Perdoar
Para novamente mentir
E, no próximo natal,
Igual Pedro
À fé de Jesus negar