Despensa vazia
Eu que pensava
O amor e não
Sentia o amor,
Que via a casca
Mas não via a madeira
Branca, ou preta ou
Vermelha, os veios, os
Lugares carcomidos
De cupim, a sua parte
Apodrecida, outras
Afofadas, frágeis,
Riscadas já pela morte
Eu que tomava a aparência
Pela vida, que
Suspenso num cordão
De umbigo não via
O sofreguidão que existe
Dentro da madeira, sua
Morte anunciada, suas
Várias mortes guardadas...
Em desespero em estar
De pé, não via sua lascidão
Diante das tempestades
Seu medo nas folhas que
Caiam...
Eu que pensava o amor
Eu que não sabia o que
Era amor
O solidão não Está
Dentro da gente..
Está na nossa fuga
No nosso desespero
De ficar só...
Na busca do outro
Quando esse outro
Não tem a si...
Dentro da gente
Não existe solidão
O que existe são
Cômodos desconhecidos
Portas inseguras,
Janelas mal fechadas
E despensa vazia
E o medo de ver
Que tudo isso tem
Jeito..