Poética do fim
Desfez a renda do poema,
que pena!
Tinha tanta leveza
a renda sobre a mesa...
Foi pro ralo.
Assim também os tecidos
que graciosamente me foram cedidos
pela tristeza.
Bom que nem precisei comprá-los!
Agora não adianta dizeres (porque pedi)
que confundiste palavras com tesouras
e usaste todas
pra desfiar os tecidos.
Vais desfiando
e eu vou definhando
todo amor que teci.
Depois emendo as fendas
e esses buracos na renda
esperando que meu orgulho se renda
mas não te importas...
Agora vem e me olhas
querendo que eu fale. Não me calo,
mas da metade do que falo,
o dobro ignoras!
Só escutas o que queres.
Saiba que bem sei
que me feres
cortes leves
em resposta a palavra nenhuma
de todas que falei!
O triste é que só ouviste
tudo o que eu queria dizer, mas não disse.
Saiba que não vale nem um poema, muito menos seu esboço
se o amor é pouco,
se um não importa pro outro
Agora sinto, mas não sinto muito,
sinto pouco.
Bom senso sempre diz
que o pior do amor, além do início
é o seu fim.
E dos teus beijos em câmera lenta,
já não sinto muito por aqueles apenas
que não serão dados a mim.