Primeira pessoa do singular

Eis aqui a palavra exata e elegante.

Austera e altiva.

Palavra precisa e perene

que me propõe, que me expõe

e evidencia minha presença no mundo.

Fala de mim e de meus equívocos.

Conta meus segredos e passa-me a limpo

para que o mundo me decifre.

Eis aqui a palavra que me cala porque grita meu nome.

Anuncia minhas tragédias,

Denuncia meus receios,

meus anseios e contradições.

Essa é a palavra que me rasga inteiro

Que me remenda e depois me veste.

Última palavra do momento.

Primeira palavra do devir.

Agora, nesse instante, eu sou “A palavra”.

Eu sou o verbo solitário e imperativo.

O substantivo próprio mal acompanhado

Por um adjetivo pátrio “mal falado”.

Eu hoje sou a palavra que dorme em tua boca!

Ouça-me...

Leia-me...

Traduza-me...

E se puder: Entenda-me!

Orpheus
Enviado por Orpheus em 10/03/2007
Código do texto: T407453