TRECHOS INVOLUÍDOS DE POEMAS FUTURAMENTE ESQUECIDOS - VI
- I -
O POETA MATADOR I
palavras assassinadas
costumam imprimir-se
em sangue
exaurindo,
em vermelho-exangue,
o próprio sentido
- II -
O POETA MATADOR II
escalou as palavras
esbaforido e herético,
o poeta escalafobético...
no topo, ao final da saga,
vomitou suas falas.
por fim caiu reteso e duro
no fino abismo da sua gramática...
- III -
O POETA MATADOR III:
Exercício Prático
Para Desobstrução das Palavras
alsdkj qiuf adlajhfqq euf
sadljkafh quefh aadlqu qeuyfya
aluqe fqi que
qouid alwekvnnqie
ao qu lqçai ro
ajq u ppi faamngqo
alq9quie au 8dl
(alívio)
- IV –
O POETA MATADOR IV
ele era o que a reflexão direta
não podia alcançar
ele era o discurso sem meta
que buscava o que não vingar
ele era o contrário da linha reta
e já bebia (há horas) na mesa d’um bar
- V -
BRUTAL I
esfarelo-me no tempo
ao seu moimento de areia fina.
efundo-me ao sobejar
granulado, rarefeito, livre,
perfeito como a areia do mar...
- VI -
BRUTAL II
a vida chega a ser bruta...
resoluta, até machuca
ao incontinente passar
- VII -
BRUTAL III
o fiel do tempo
fugiu pelo desvão
aproveitou a brecha
(fazendo trapaça)
da embriaguez
boa-praça
do meu coração...
- VIII –
DESAMOR I: A Inapetência
eu não pertenço a essa paróquia...
eu não tenho nenhum dente do siso
ser amado é bom, mas eu não preciso
como não preciso de mastigar hóstia
- IX -
DESAMOR II: O Esquecimento
pois acreditem :
foi um esquecimento denso
carregado de gigantescos tijolos
d’um romântico chalé abandonado
- X –
DESAMOR III: A Conveniência
só se salva quem se arrepende...
portanto, primeiro pecai
meu povo, demais pecai
que a salvação
aprochegar-se-á a vós
tal fôsseis eletroímãs...