A Utopia

- Que utopia

tu cantas ainda, poeta?

- A mesma de sempre, amigo

que pergunta.

A velha esperança

de que a maré devolva

as flores que lhe depositamos

e que haja em todo barco

que retorna

o sustento honesto

de quem soube pescar esperança.

Ainda canto, amigo, a crença renovada

em cada rosa oferta

e em cada lágrima evitada.

O mesmo cantar sobre o amarelo

das tardes e dos sonhos

de Maiakóvski.

E sobre o verde de Lorca

que se quer verde.

Ainda sobre a mesma estrela,

sobre o amor de sempre

e, sobretudo, para a Musa

que não muda.

Ainda canto o mesmo canto, amigo.

E escrevo meus versos

enquanto vejo que

o Mundo passa pela janela.

É a utopia que me basta.