Germinando Ventos
Sinto muito por não lhe escrever aquelas cartas
quando eu estava na guerra
e via amigos meus mortos e abandonados
em valas da vergonha de nações em conflitos.
Sinto muito quando o sol posou em meu corpo
quando o inverno estava abaixo de zero
e você precisava se aquecer de meu aconchego
e aquelas pessoas sobre as marquizes
tentavam se enrolar com papelões enxarcados da chuva.
Sinto muito quando aquela criança chorava de fome
nos braços magros e trêmulos da mãe
e dizia que esperava chegar ao céu e se deliciar
com um pão gigante e doce.
Sinto muito quando joguei fora as fotos
dos Beatles autografadas que a rainha nos deus de presente
ao visitar o castelo na Escócia bebendo whisky
enquanto falávamos sobre a paz utópica no mundo.
Sinto muito quando fechei a porta na hora que
a bomba no Japão explodia e eu não escutei os gemidos
daquele povo porque estava assistindo um filme americano
e vi que eu era gente sem coração e sem alma
tentando ofuscar o espírito alheio dos anjos.
Sinto muito quando procurei escrever a poesia mais linda
inspirada na vida mais bela
mas não tive inspiração
pois você não me olhava mais
não falava mais comigo
não me abraçava mais
nem seguer me beijava
pois tu eras uma estátua inerte sem vida
e eu um poeta sozinho no mundo sem amor.