Um dia (...)

Um dia um caminhão me atropelou

Voei uns 20 metros sobre avenidas da vida

Caí de maduro e ainda verde de alma

Senti que algo se passava, ali estava eu

Cercado por uma multidão

Uns viravam o rosto para não ver

Outros acotovelavam-se para beber meu sangue.

Um dia um caminhão veio e me levou

Não estava preparado para morrer, ser costurado

O cheiro do formol me faz espirrar, já não espirro!

Fiquei muito tempo no rabecão a espera dos outros

Vítimas do tráfego, do tráfico, dos adultérios, das fatalidades

Da banalidade, que no fundo é a morte.

Um dia, o caminhão me abalroou

E nem me permitiu as despedidas:

Da família, do cão, dos amigos, das dívidas

Nem pude ouvir a resenha esportiva

Não fiz o último poema,

Nem terminei minhas obras póstumas.

Um dia um caminhão me deu boléia

Para o outro lado, fui esquecido, fui deixado.

E os caminhões continuaram a passar...

José Benício
Enviado por José Benício em 03/01/2013
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