Acende uma vela, Perna Seca

(A.M. 33)


Eu, que andei por este mundo com meus gatos,
Compondo feliz minhas canções a Dulcinéia,
Hoje me encontro prostrado e esquecido , largado,
Em cova rasa, em Anchieta , entregue à alcatéia.

Nem mesmo tenho o alento da companhia de meus pais,
De meus irmãos, sepultados em Cachoeiro,
Roubado que fui, enterrado sem menos, sem mais,
Sem sequer uma lápide a indicar meu paradeiro.

Poeta em vida que fui, tolo que deveria ter atentado,
Que com teu nome só rimam crise, deslize e marquise,
E com o de teu marido, blasfemo, extremo e o próprio demo.

Meu desprezo sentirás a cada noite só e insone, prometo,
Até que devolvas o que não é teu, ouvirás minha voz sem clemência:
Acende ao menos uma vela, perna seca... tenha um pouco de decência.
LHMignone
Enviado por LHMignone em 29/12/2012
Reeditado em 14/10/2013
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