DESESPERO
A chuva corrosiva derrete nossos corpos
O pântano devora a cidade
O urubu sobrevoa a Paulista
Os bueiros que engolem a lama e o óleo
Devorarão com fome infinita nossas paixões
E deixarão feridas
Na carne fendida
Que um dia comportou um coração
Queres segurar minha mão ?
Segura a sinistra
Que a outra foi amputada
A tormenta de sangue e dor
Já cobre nossos joelhos
Queria ser ator e que esse fosse um ato
Não vejo entretanto luzes na ribalta
Somente o vento que nos arrebata
Para longe de nossos sonhos
O inferno nunca esteve tão perto como agora
Sinto-o como se fosse uma aurora
Desconheço o caminho dos justos
Sigo então pelas vicinais dos ímpios
A chuva carcome nossa esperança
Deus e homem ? Uma aliança ?
Nunca ouvira tal bobagem
Desconheço minha linhagem
Todavia prefiro descender de símios
À ser semideus
Antes macaco por inteiro
À um deus pela metade
Antes o dia que o fim da tarde
Quantas bobagens escrevem os escribas
Jograis do basbaque rei
Decretos e leis são jogados
Sobre a canalha
Aquele que se alquebra frente a tirania
Não é homem
Talvez semideus
Homem , Nunca