[Acidente na Tarde]

Em fuga dos arrastes de mais um dia,

senta-se o poeta na sua cama.

Calmamente, ele toca a colcha fria,

e a sua mão tateia os entrelaces das linhas...

Busca o refrigério de uma pousada,

viageia a suavidade de vernais planuras...

Porém, a ânsia de repouso é frustrada —

o cadarço do sapato do poeta deu um nó cego!

Foi meramente acidental;

mas ainda assim, desconsolado,

o poeta olha o sapato.... é o pé direito;

o que fazer?! E logo o direito...

É uma fatalidade, uma enorme fatalidade!

E não há nada que dê jeito,

pois ele, o poeta, não tem a habilidade

de destricotar linhas embaraçadas!

Enquanto isso, a tarde cai,

os pássaros se recolhem,

a vida se esvai,

o desespero estua,

e a pinga amarela espera...

__________________________________

[Penas do Desterro, 21 de setembro de 2000]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 27/12/2012
Código do texto: T4055535
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.