Segunda impressão

Agora que a escola da vida ensinou,

Podes iluminar outros pelo exemplo;

De quem viu o duro martelo do amor,

Despedaçando as rochas do tempo...

Dois tempos fazem um aprendizado,

Que no fim, pode ser visto por inteiro;

O ator já não encena porque cansado

E cede o cenário, ao amor verdadeiro...

A primeira impressão é que fica, dizem,

Às vezes, a que se revela mais insana;

Os que nunca se enganaram que pisem,

no velho adágio que a aparência engana...

O crepúsculo chegou e nele vi a lua cheia,

fazendo, por uma nova chance, seu apelo;

outro calor o mesmo sangue, mesma veia,

desperdícios idos, agora buscados com zelo...

O devir veio, pois, cambiando quase tudo,

Mas meu coração se recusou à mudança;

Sem perseverar em seu engano, contudo,

Viu crescer em silêncio, o viço da esperança...

Assim qual a beleza d’um quadro de Matisse,

Que dá vida ao que chamam natureza morta,

Belo instante quando às nuvens Deus disse,

Que chegou a hora de chover na minha horta...