GRADES INVISÍVEIS
Sou livre, tenho asas e a porta está aberta,
O que me falta, o que me prende?
O que me faz aguardar a hora certa?
Um carinho pode ser a chave,
E o seu olhar, na certa é o que drena,
Todo o combustível de minha nave.
Tudo é tanto e às vezes tão pouco,
São grades invisíveis aos olhos,
De paredes circulares como as de uma gaiola,
Um pouco mais e fico louco...
Uma vida de degraus em zig-zague,
São dez pra cima e nove para baixo,
Cinco à direita e quatro à esquerda,
Tudo movido ao seu toque,
Parece uma cerca elétrica,
Se tocar, leva um choque.
Querida, onde estar o seu amor?
Diz-me, é assim que se ama?
Um amor apenas do quarto pra cama.
Onde está o resto da casa?
Por que a janela está fechada?
Onde fica a saída?
E lá em baixo, você já viu?
O que há debaixo da sacada?
Lá há vida, mas você não vê!
Ou talvez tenha medo do encontro,
Talvez prefira viver nessa casa de vidro,
Com medo do mundo...
Do mundo que me originou,
E que me expôs ao teu olhar profundo.
São olhos a me vigiar,
Braços a me abraçar,
Um corpo a me abrigar.
São portas abertas,
Numa casa de vidro,
No céu a flutuar,
E eu, pássaro livre,
Sem vontade de voar.