MARCENARIA

Ponha na língua duas doses de poesia solúvel

Abaixo de todas as linhas, à margem. As vidas

Sonhadas, edulcoradas, vividas e esquecidas

Baú (de todas as velharias já pensadas)

Alambique (de todas as paixões dois dias adiante)

No torniquete da febre, espere. Um segundo ou a vida inteira.

Ninguém pode escrever em brasas

Respire!

O verniz nunca satisfaz os nós da madeira.

Desgaste a espiral das palavras,

(a saliva ainda é o Eldorado paleolítico).

Chacoalhe o cochicho sorrateiro que surgir

Grite alto no ouvido das palavras

Mais alto!

(Elas não escutam com facilidade)

Profane-as até se acostumar a perdê-las

E outro alguém delas mostrará o espectro.