MEUS DEUSES
Depois de ser acorrentada,
Presa, tolhida e usada,
Pois escolhi ser amada
Pelos Deuses da Paixão,
Uns gentis, outros não,
Amava-me cada um a seu jeito,
Sem dar a mim o direito
De escolher o que eu queria,
Sem saber o que colhia
Depois de plantar sementes
Apenas dentro da mente,
Tentando preservar o coração
Da pérfida desilusão
O primeiro deles, Narciso
Muito sério, pouco siso
Pois nenhuma ninfa dispensou
Muitas vezes por mim passou
Vivia a volta com espelhos
Penteando os belos cabelos
Tocando seu próprio corpo
Era um espírito de porco!
Esqueci-me como era belo
E vê-lo? Jamais espero!
O segundo o Deus Apolo
Aquele que mais adoro!
Não apenas pela beleza
Mas também pela esperteza
De me fazer sua amante
Belo rosto, corpo vibrante,
Foi quem me alertou um detalhe:
"Por mais que tente ou trabalhe
Nunca te serei fiel e só teu
Tudo o que tenho é só meu!"
Agradeci a rara sinceridade
E fui-me na indelével saudade...
O terceiro, o ébrio Dionísio
Baco, seria mais preciso
Misturava-me com seu vinho
Entre uvas e azevinho
Nem percebia quem eu era
Nem se lembrava o que se dera
Na noite anterior
Se fora paixão ou amor
Não saberia responder
E como deu pra me esquecer
Ah, dele resolvi me livrar,
Antes de chegar ao altar!
Hoje meu Deus é bem outro
Eros vive qual maroto
Dentro do meu coração
Livrou-me da escuridão
De uma mente depravada
Mostrando-me como é errada
Esta filosofia demente
De se amar com só com a mente:
Amor, quer você queira quer não
Só se for de coração...