Fome de poesia
Fome de poesia
Anjos com bocas escancaradas
Seguram o queixo com as mãos
Admirando a construção dos versos...
Livres, leves, soltos, travessos
Cutucam com seus dedinhos, meu corpo-manga
Quando abrigo mendigos e loucos de tanga
No devaneio da mais sã loucura...
Fábrico noites intermináveis
Em meus pensamentos escondidos
Alma de inspirações entorpecidas
Furtivo, espreito...Sempre à espreita...
Nunca dê as costas para o inimigo
E tenha-o sempre por perto
Mantendo a devida distância
Ou corte o mal pela raiz...Eis o soluço da solução!
Abro o peito do cérebro
Onde fundem-se sonhos eróticos
Quedo-me às convulsões d'alma pânica
Como chama à brisa ao vento lúdico!
Meus incêndios são frases d'água
Cidades imaginárias, migratórias, perdidas e encontradas
Nas distâncias...No universo-espaço-tempo
Num só Eu de toda minha incompreendida e eterna alma...
Arranha-céus, duelando com estrelas
Descascam sóis, com lâminas afiadas
Temperam poemas sem fome de nada
Enlouquecendo à fome de tudo...
Engolido pelo abismo das palavras
Me perco no mais absinto dos sonhos
Guardo deuses na algibeira surrada
Em meio à tantas palavras vãs...
Falo para ouvidos surdos
Com olhos embevecidos para a Lua
Que zonzeia a noite inteira grávida e nua
Enquanto minha língua, fala à língua dos bichos
Acarinho pelos, enquanto te deleitas
Com a dama branca da noite que o céu palmeia.
"Ah!... Dai-me paciência e cadinho de mel"
As vezes, sinto-me explodir, centelhas de estrelas!
Aquelas que não brilham, apagaram-se...
No prato, grãos, na mente tão só me sinto
Devastado pelo vento...Entro no casulo-escuro-labirinto
E não mais me vejo e sinto...
Fico tempos sem ecos, olhando o abismo no escuro
Bicho estranho acuado
Feito rinoceronte, com chifre na fronte
Feito cobra, pronta pra dar o bote
Feito trigo para ser teu alimento!
Não dá para ser tolo, nessa vida
E muito menos frágil
O corpo tem que ter raízes profundas
Os pés fincados no chão, do chão oriundo da terra
Unguentos curam cicatrizes, feridas d'alma, quem dera!...
Na carne da idade, fragilidade
- Tempo -
Árvore sem recurso de sugar-raízes
São meus pensamentos
Se enroscando para dentro do poema
Versos são espadas sem espadas
Fios e lâminas, iluminadas
Duelando nas estrelas...
Nascente de inspiração:
- Ocaso -
Pomares de frutas maduras
- Colho o olho -
- Degusto-alimento -
Sacio à sede de água na fonte,
Poesia nunca!...Deveria morrer de fome.
Tony Bahia.