SEDE DE PODER

Por minha sede,

eu posso negar o sorriso de todas as flores existentes

Com a pulsação dos seus cheiros

E a beleza de suas cores...

Nego a poesia que habita o coração dos rios

E seus afluentes com seus segredos

Decifrados pelo chão fértil e latejar com sabedoria e esperança encarnadas em suas águas.

Não sinto e nem ouço as estrelas com seu pulsar em cores delirantes

e faço entristecer os homens com coração de menino e alma de poeta

a irrigar seus caminhos em direção da pulsação da vida

Com seus gritos e com seus silêncios

A ecoar e a se desdobrar como sementes do suor e do amor

como marcas no olhar de muita gente

Porque a minha sede me causa alegria

que consigo marcar em eternos vínculos

com sabores vazios, cinzas e insossos

Porque eu preciso estampar o meu sorriso

por paredes ocas e sem alicerces

Pois eu não tenho preces a orientar o meu dia a dia

Para saciar a minha sede

eu roubo as texturas da tez das manhãs,

de suas aragens sutis

e de seus ritmos vitais.

Sonego a beleza do verde das folhas,

Sonego o seu brilho

e sua poeticidade

Sonego as pétalas que caem

cicatrizando o seu tempo,

silenciosamente,

compondo a sua canção de existir.

Sonego por opção nua e crua,

o direito de não ver o sagrado momento do nascimento

do mais belo poema que compus

com tanto amor e vaidade extrema

em momentos de devaneios, de prazer e de loucura da alma.

Para saciar a minha sede,

eu diluo venenos nos orvalhos das manhãs

com garbo, orgulho e virilidade.

E seco lágrimas de faces alheias

e ainda cheias de esperança

e sugo veias de almas benevolentes

prostradas cegamente

diante das minhas convicções ideológicas.

E preciso com urgência

viabilizar as nuances do verbo tratorar

pois é com ele que eu me edifico

perante as leis,

diante do tempo

como segredo sagrado que se enruga

e se desdobra perante a minha sede.

Esterilizar sementes,

contrabandear gente,

driblar idéias...

Entorpecer o por do sol

com suas nuances e matizes e poderes poéticos

e poder vendê-los

ou trocá-los por elementos

que matem ou saciem a minha sede

Idolatro a frieza de gaiolas

reinventando o seu poder e valor,

Sempre!

Forjo sorrisos

como luxo intermediário da minha sede,

por ela eu posso até beber chorume,

esterilizar estrumes

Para ver o dia nascer sem com as cores do meu ego

Durmo em qualquer chiqueiro, curral ou puleiro

E posso negligenciar a dignidade das galinhas

Pois para mim, o fim justificam os meios

por isso dou tapas no destino,

descasco as tinturas das paredes de minha sina

e atiço fogo alado nos desertos de mim mesmo

com as esquinas dos meus horizontes.

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 25/12/2012
Reeditado em 25/12/2012
Código do texto: T4052049
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