engodo
era certo de as estrelas
velarem o sono do lago
mas a lâmina-face feito fria
a dormir
a fingir cego espelho
que mal refletia:
era engodo
os peixes sabiam
os ramos em volta
os ninhos
o barro da encosta:
o lago não dormia
e um céu de estrelas
sedento
derramava-se enganado
e caía refletido
sobre a lâmina-face e fria
feito morta
do lago que fingia
e eis que o lago então
do lado de dentro dos olhos do lago
olhos de chuva caída há que tempos
olhos de lágrima perdida de tantos
olhos
olhos do lago miravam
aquele cada pedacinho de céu
desistido
esquecido pra dormir
eu vi:
o lago ninar
um céu de estrelas
e acima da lua
vi o lago reinar
além, muito além
do abismo da noite mais funda
do fundo dos olhos infindos
da face de Deus
quando fingem dormir as águas:
eu juro que vi