engodo

era certo de as estrelas

velarem o sono do lago

mas a lâmina-face feito fria

a dormir

a fingir cego espelho

que mal refletia:

era engodo

os peixes sabiam

os ramos em volta

os ninhos

o barro da encosta:

o lago não dormia

e um céu de estrelas

sedento

derramava-se enganado

e caía refletido

sobre a lâmina-face e fria

feito morta

do lago que fingia

e eis que o lago então

do lado de dentro dos olhos do lago

olhos de chuva caída há que tempos

olhos de lágrima perdida de tantos

olhos

olhos do lago miravam

aquele cada pedacinho de céu

desistido

esquecido pra dormir

eu vi:

o lago ninar

um céu de estrelas

e acima da lua

vi o lago reinar

além, muito além

do abismo da noite mais funda

do fundo dos olhos infindos

da face de Deus

quando fingem dormir as águas:

eu juro que vi

Capiau da roça
Enviado por Capiau da roça em 23/12/2012
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