TEMORES
 
Pela fresta da janela
espreito a noite tão bela
que se derrama, inteira,
por sobre a minha floreira
de rosas secas e mortas.
Morreram as flores ao relento,
tantas noites, tantos dias,
sem água, sem alegria,
nas madrugadas paradas,
sentindo o sopro do vento
se infiltrando pela porta.
Também como as flores definho
no meu quarto em desalinho, 
perdida num mundo estranho
do qual desconheço o tamanho,
em meio a sombras difusas,
que desaparecem, confusas,
por trás das brancas cortinas,
como se fossem meninas
a brincar de esconde-esconde.
E o tempo se foi... não sei onde,
me deixou a ver navios
num deserto a céu aberto,
a tremer em arrepios
procurando a própria imagem
que se mistura à paisagem.
Não sei se choro ou se rio.