A Rua

A rua quente, negra, passarela de almas

corpos em armaduras de aço e plásticos

árvores empoeiradas, sobrevivem ainda

finda num tempo vidas e nua sobrevive

A rua desce em enxurradas bravas e barrentas

sobe em passos lentos dos velhos cansados

estabelece uma norma de passagem e espera

amortece ao seu ritmo a ânsia e o direito de ir

A rua é um holocausto urbano do movimento

dorme pouco e logo no primeiro sol, tortura

desfigura a geografia e deforma a vontade

é desejo e frustração, aventura e marasmo

A rua é a casa dos quase vivos ignorados

é a folha caída na calçada suja inexpressiva

é a fome, a saída, o final de um destino

o início da ida, o comércio da liberdade

A rua é onde eu não fui mas posso ir

é onde mora o dia e a noite dos cães

é onde a sedução e a despedida estão

é onde fui buscar o mundo e a revolução

Dado Corrêa
Enviado por Dado Corrêa em 22/12/2012
Código do texto: T4048164
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