SONOLENTOS

Não vês?

A faca imunda

bem afiada

enfiada, funda,

em seu coração?

Não sentes?

É tão profundo

O que tens,

um peito dormente?

Sim, sim...

O sistema não passa de um sonífero

Sonolentos, não ousem atrapalhar seus passos longos

E nós, a passos lentos, obedecemos

É assim que a máquina funciona

E máquinas é o que acabamos sendo

E os poderosos,

sentados com seus copos de uísque,

mexem peça a peça do xadrez

para proteger o rei (ele mesmo)

E a maioria está lá na frente, um batalhão, nós, os peões,

a proteger o riso cínico de quem ganha milhões

São tão espertos

Pagam pouco para os bancos lucrarem com seus empréstimos

E assim a máquina funciona

É tudo friamente calculado

Se um não paga, paga o do lado

O juros já está corrigido

Eles pensam em tudo

Para eles, é claro

Só que meu corpo e o de alguns

resistem a esse sonífero

De olhos bem abertos,

não quero egoísmo

e nem cinismo por perto

No final das contas,

somos robôs

E ai de ti se não tiver eficiência

Exclusão

E quanto mais material,

mais nos distanciamos de nossa essência

(Até os peões babam por dinheiro... Quanta eficiência!!)

Inevitavelmente, o mundo se torna violento

E nós, atordoados e sonolentos,

de vez em quando perguntamos pelo amor

Acordem, amigos

Enquanto estivermos dopados ou dormindo,

o natural é que seja mesmo todo esse horror