PARA ONDE?
Lílian Maial


No metrô, um vagão,
e seus vagos olhos de tantas visões -
solidão -
longas horas de espera na vida,
em vão.
Para onde?
Os cabelos brancos,
os amigos mortos,
os amores passados,
os parentes distantes...
Não há beleza de salão,
não há vaidade de butique,
não há danças, nem canção,
não há planos, senão para o chão.
Vagos olhos no vagão.
Sem lembrar a estação
de saltar, de pular
já tão tarde,
tanta gente,
sem sentido, sem direção.
Para onde?
As mãos trêmulas não mais assinam.
A pele enrugada não mais excita.
O coração vazio não mais aquece.
E nem dói - só bate ainda.
Passa Estácio,
entram crianças que lembram filhos,
que foram... Só lembrança.
Entram estudantes, executivas,
pernas à mostra, tão possessivas!
Como era bom saber para onde ir...
Chega Carioca
e os olhos desertos,
como secos lagos, olham pra mim.
E sinto o lapso de tempo e espaço.
Ela - eu, numa fração de segundo.
Eu vou saltar agora.
Ela, agoniada, ainda não sabe para onde. 


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