Verbo em Desuso
Em tempos como este,
em que ninguém mais namora,
e em que as pessoas vagam
em busca de noites quentes,
ou de príncipes e princesas,
namorar virou démodé.
Eu não falo de "namoro" como "status de relacionamento".
Quem foi que disse que relacionamentos precisam de "status", meu Deus?!
Falo da conjugação do verbo.
Aquela que se articula no cotidiano.
Falo de mãos unidas no cinema,
de tardes inteiras sem sair da cama,
de saber por ter percebido,
de conhecer o caminho do arrepio
e se gosta de café forte.
Daquela mistura da vontade
com à vontade.
Pobre tempo este
em que a intenção do beijo
abandonou o batom.
Triste tempo este
de pessoas isoladas
teclando juntas
em mesas de bar.
Em tempos assim,
revolucionário é aquele
que liga no aniversário
que conta da saudade
que cruza a cidade para te ver.
E eu me vejo um tanto antiqüada.
E sem a menor intenção de modernidade.
Tão avêssa a bandeiras, me pergunto
quando foi que me tornei
revolucionária do afeto.
(Flávia Côrtes - Dezembro de 2012)
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