Até o tempo dizer chega.
De repente o coração se cala, fica inerte em si mesmo, deixa de sorrir.
De repente a vida nos vira as costas, as cores debandam, a dor aporta com todos seus ventos,
com toda sua voz.
De repente o chão vira gelatina, os pensamentos coalham, os cheiros todos ficam mofo, só mofo, nada mais que mofo.
Viramos zumbis vagando a esmo dentro de nós mesmos por todo o sempre.
E ficamos assim até o tempo dizer chega, e isso demora tanto, tanto, tanto.
Então, por certo, virá uma nova maré e enxágua cada fiapo de dor, cada fiapo de saudade, cada fiapo do vazio que se fez o nosso mundo todo.
Com toda calma desse mundo vai limpando todas feridas, cada rasgo fundo no peito,
cada fardo que envergou nossas costas até o chão.
Nesse tempo, Deus nos abraça como nunca fez, como sempre fez.
E nós, aninhados na Sua luz, recobramos os sentidos, o nosso sangue volta a correr, o tempo retoma seu caminhar.
Assim a nossa alma volta para casa. Volta pra ficar.
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