MORDAÇA
A mordaça já me fere como eu previa,
A voz é frouxa e não se aprisiona
Apenas a boca é oca, ampla e vazia
Mas a palavra clara, forte impulsiona
Sei que ainda hei de alto gritar ao mundo
Que o que sinto é o que todos sentem
Quando a alma vã num corpo moribundo
Dentro e fora encontram-se dormentes
Se a mente pensa e é o coração que sente
Mas as palavras já tão livres e soltas
Dentro de um corpo insano e doente
Perdem-se qual folhas em mortalha envoltas
O vento as leva ao mais sublime cume
E lá em cima, acima de todos, de tudo
Caem como estrelas em flama e lume
Incendiando o traje tecido para o luto
Rôto e rasgado no jazigo insepulto...