MORDAÇA

A mordaça já me fere como eu previa,

A voz é frouxa e não se aprisiona

Apenas a boca é oca, ampla e vazia

Mas a palavra clara, forte impulsiona

Sei que ainda hei de alto gritar ao mundo

Que o que sinto é o que todos sentem

Quando a alma vã num corpo moribundo

Dentro e fora encontram-se dormentes

Se a mente pensa e é o coração que sente

Mas as palavras já tão livres e soltas

Dentro de um corpo insano e doente

Perdem-se qual folhas em mortalha envoltas

O vento as leva ao mais sublime cume

E lá em cima, acima de todos, de tudo

Caem como estrelas em flama e lume

Incendiando o traje tecido para o luto

Rôto e rasgado no jazigo insepulto...

Franz Znarf
Enviado por Franz Znarf em 18/12/2012
Código do texto: T4041255
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